RESENHA


         Eterno começa numa época de muitas injustiças sociais. Nada como a antiga Versalhes do século XVII para retratar os infortúnios que as mulheres passavam à época. Uma França mergulhada em preconceitos e tabus é o palco para que Gabrielle inicie sua narrativa, contando a própria trajetória.


        

        Tudo que ela passou em Versalhes, contribuiu para transformá-la na ousada vampira que viria a se tornar um dia, sem, contudo, desfazer-se do brilho que possuía – o mesmo que encantou o vampiro Edmond Laforet – e por tais mudanças ela pagaria um preço muito alto ao longo de suas próximas encarnações. As cenas narradas na primeira parte, mostram, de forma mais ou menos sucinta, a inesperada e tórrida história de dois amantes que apesar de suas diferenças, entregaram-se a este sentimento de forma plena.
       
        Por razões alheias à vontade de ambos, os sonhos, que alimentaram para construir o próprio castelo de amor, foram se deparando com a escura época em que viviam; contrapondo-se também às suas esperanças de vencer tudo o que poderia afastá-los.

        Edmond ao conhecer Gabrielle, numa situação que para ele, a tornaria uma “presa” fácil, surpreendeu-se com algo que nem ele mesmo estava esperando surgir. Algo que nem os poetas, músicos, escritores e artistas ainda conseguiram decifrar: o amor. Há muito ele não experimentava sensações semelhantes! Algo o transformou naquele momento, porque foi num daqueles raros instantes que se escuta aos ouvidos: aqui está alguém que irá mudar sua vida para sempre!

        Muitas pessoas não acreditam em amor à primeira vista, mas quem pode garantir ser de fato a primeira vez que duas pessoas se cruzam, nesse infinito universo de tantas migrações e encarnações do espírito? Ao se deparar com alguém que marcou profundamente uma existência passada quem poderia descrever a exata sensação ao olhar em seus olhos – espelhos da alma – e descobrir nela o verdadeiro motivo por estar vivo? Pode ter sido essa a explicação para Edmond desistir dos seus propósitos torpes.


 

        Foi marcante a simples troca de seus olhares. Ele observou cada detalhe de seu rosto, sua frágil aparência... Foi mais além, conseguiu enxergar alguma coisa de si mesmo, presa naquele encantamento que ela demonstrava. Algo que fazia parte dele e estava dentro daquele ser. Explicável, ou não, nada mais importava, pois tinha a certeza que ele não era mais o mesmo.



        Em Gabrielle, através de sua própria descrição, foram despertados sentimentos semelhantes e ímpares também. O que se poderia esperar de uma jovem tão propícia a se apaixonar? Cansada de toda a vida que a rodeava, dos problemas aos quais estava enfrentando; encontrar aquele belo cavalheiro de sorriso encantador e olhar de anjo, foi muito mais do que ela esperava deparar-se um dia. Ele representava o que toda   jovem de sua idade, em qualquer tempo, poderia sonhar em conhecer: um salvador, o refúgio de seu mundo tão amargo, a esperança de felicidade e paixão eterna. Com o despertar desses sentimentos, ela se reconhece numa mulher sedutora, audaciosa e plena.

        Mais que um “príncipe”, Edmond, significou uma espécie de "anjo", o  qual tanto sonhava que viesse salvá-la. A partir daquele encontro, a vida dos dois jovens mudaria para sempre, cada um a sua maneira, devido às próprias peculiaridades, mas uma mesma semelhança: o forte desejo que os perseguiríam dalí em diante. Tal ambição pela felicidade, haveria de tornar a doce camponesa, capaz de atos sádicos, masoquistas e inesperadamente ousados, mas sem nunca despreender-se do propósito maior, estar ao lado do grande amor de sua vida.

        Apesar da condenação moral da época, foram finalmente viver o que seria inevitável, uma grande paixão - plantada por forças desconhecidas do próprio universo. Quem poderia culpar seres diferentes por se amarem? Quem criara o amor? Por que surgira, sem que ninguém o tivesse buscado? São perguntas retóricas que não se pode responder, simplesmente sentir. 

         A grande e misteriosa magia que transforma todas as criaturas, permitiu que dois corações, em peitos tão distintos, batessem na mesma frenquencia, a cada segundo. Proporcionou o frenesi e a falsa impressão de que tudo ao  redor havia se tornado pequeno. Entregaram-se à própria libido e foram guiados pelo prazer físico e espiritual de estarem juntos.

        Sim, foi por amor, esse mesmo sentimento quase indecifrável que levou Gabrielle a aceitar, perdoar e adorar Edmond incondicionalmente, mesmo ele tendo revelado toda a sua verdade, impregnada de morte e seres ocultos.

        A paixão permitiu que ficassem “cegos” diante de tudo. Como todos os amantes, estiveram surdos também a qualquer problema, a partir de então. Para ambos só haveria um ao outro, eternamente. Ele tinha a certeza que a protegeria de qualquer dor. A ilusória convicção de que a teria em seus braços e não permitiria àquela frágil criatura, nem mesmo ser tocada por uma brisa fria, ou atingida por simples ferimento.

Ao mesmo tempo em que vivia o conflito interno de ser alguém melhor para ela, também sentia pesar a cada instante as suas diferenças naturais. Mesmo assim, ia arriscar. Desafiaria tudo o que tivesse de enfrentar para viver a única chance que acreditava ter encontrado para evoluir e aprender a amar plenamente.

        Quão grande foi a decepção de Edmond ao descobrir que na verdade, não pôde protege-la como havia imaginado! Ao seu regresso, não se deparou com a feliz notícia que o fruto daquela magia, a qual viviam, estaria a caminho; mas sim, com a trágica realidade, que veio a tona em seu coração e mais uma vez o cegou; contudo com outro sentimento, oposto ao que sentia antes: ira. Mal podia acreditar que seus olhos viam o corpo da mulher que tanto amava e idolatrava, até poucos dias, no fundo de um poço abandonado. Sentiu-se tolo e traído por si mesmo e pela própria humanidade - a qual estava aprendendo a respeitar novamente. Como foi capaz de não estar alí para defender a única pessoa que o enterneceu completamente? Sentia-se fraco, impotente diante de algo muito maior com que poderia lidar: a sombria e inesperada morte.

        Um brutal assassinato por intolerância à felicidade alheia, ou falso moralismo costumeiro, à época? O que importava agora? Para ele não havia mais chão sob seus pés. Nada por que lutar ou viver. Tudo se tornara sombrio novamente! Lembranças de um amor puro teriam que se acostumar a conviver, a descontento, com seu sentimento de remorso e ódio por tudo aquilo que havia tentado aceitar: as mazelas de uma humanidade, que se julgava certa em seus preceitos.

        O seu castelo de sonhos foi desmoronado da maneira mais cruel possível. Tão forte e com tantos poderes, mas não foi suficiente para deter o verdadeiro mal, ao qual ele mesmo temia: a cólera humana. O que sobraria agora, já que havia entregado todo seu amor e sua vida para alguém, que lhe foi tirado brutalmente? Passou a desejar a morte, mas bem sabia que ela não viria levá-lo também. Seu castigo maior era viver sem Gabrielle pela eternidade!
 
        O espírito de sua amada mal havia sido desprendido do plano físico e ela pôde sentir dentro de si, tanto quanto o próprio Edmond, a sua profunda dor. De certa forma mais resignada, aceitava sua próxima passagem para outro plano, mas como iría deixar a quem tanto amava para trás? Só tinha consigo a certeza que não seria para sempre. Haveria de voltar para ele novamente. Não sabia como, no momento em que prometeu em pensamento, mas tinha certeza que regressaria para junto do seu amado um dia. 

       Ao Edmond, por sua vez, caberia esperar pelo reencontro em alguma encarnação. Mas a mulher que amara jamais seria a mesma...

4 comentários:

  1. Como sempre, Erika só nos fazendo querer cada vez mais, ler Eterno! hahaha
    muito Boa resenha!

    Mal posso esperar meu exemplar de Eterno!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Uma coisa que insiste na minha cabeça, mesmo o livro sendo um romance e a resenha estando pendendo para este lado (dããã, óbvio!), eu preferiria algo mais curto, mais direto... e é claro, com o toque de romance.

    Mas também, ela não deixa de causar grande impacto e emoção.

    Toca profundamente.
    E ainda me dá vontade de ler Eterno.

    ps: não me mate! please!

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  4. oO
    Caraca....sabe quando vc lê algo fica boquiaberto pensando "Uau, isso é mto bom"...é, fiquei assim com a resenha.
    A capa de Eterno é linda dmais... só por ela eu ja leria...mas agora eu estou aguardando anciosamente o lançamento.
    Tenho certeza que vai entrar para minha lista de favoritos.
    Erika, você caprichou!

    Beijos
    Alessandra

    http://futilmasinteligente.blogspot.com

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